HIV
|
capítulo vinte e quatro
MONSTRO DO ARMARIO
. Não
tinha escolha. Era viver ou morrer e sinceramente eu prefiro viver com o HIV do
que morrer. Ter HIV não significa ter AIDS. No mundo de hoje ainda existe esse
preconceito. Eu posso viver com o vírus por anos e estar sempre acompanhando
com o médico. E com o PEP sexual Ralf pode diminuir bastante as chances dele
também pegar o vírus. No fim das contas eu não queria admitir, mas sentia muita
falta de minha mãe. Sabe quando você está passando por um momento difícil em
sua vida, está triste, parece que o mundo conspira contra você, mas você tem
aquela pessoa com quem você pode contar? Minha mãe com certeza não é essa
pessoa, mas ela é da família. Não entendo porque ela tinha mudado tanto comigo.
Capítulo 23: Seringas do Inferno | Conto: Deus Americano
capítulo vinte e três
SERINGAS DO INFERNO
A
|
espera era infernal. A lista era imensa e
mesmo assim eu não podia perder as esperanças. Não é possível que depois de
tudo o que eu passei eu vou morrer na fila de espera esperando por um
transplante. Estava a duas semanas naquela droga de hospital esperando a morte.
Literalmente. Seis horas do meu dia eu passava sentado junto de outras pessoas
fazendo diálise. Se eu não fosse as sessões de diálise eu teria insuficiência
renal e com isso meus órgãos iriam parar e eu teria uma falência múltipla de
órgãos. O que isso significa? Adeus Max.
Capítulo 22: Até Que A Morte Nos Separe | Conto: Deus Americano
capítulo vinte e dois
ATE QUE A MORTE NOS
SEPARE
E
|
stava
cansado e com sono, deitado sob o peito de Ralf, tocando seu corpo, sentindo
seu calor e seus músculos, seus braços fortes envoltos em mim. Dormi
tranquilamente sentindo seu corpo sobre o meu. Agora era eu quem estava por
cima de seu corpo. Sua respiração no topo da minha cabeça fez eu me sentir
seguro. De algum forma aquilo me relaxava. Saber que ele estava tão perto de
mim, mas ao mesmo tempo tão distante. Não queria esperar por Ralf para sempre,
mas eu também não quero perde-lo. Vou tentar não pensar no futuro. Vou tentar
me concentrar no momento de agora. Dentro dessas quatro paredes Ralf é só meu e
de mais ninguém.
Capítulo 21: Meu Soldado | Conto: Deus Americano
capítulo vinte e um
MEU SOLDADO
N
|
em em um
milhão de anos eu iria imaginar que meu pai tinha um irmão gêmeo. Ainda estava
surpreso e aos poucos o susto que levei ia desaparecendo. Eu sinceramente achei
que o remédio fosse o culpado e que eu estivesse tendo uma alucinação. Gostei
muito dele ter aparecido. Meio que faz a dor de ter perdido um pai diminuir um
pouco. Era uma dor que nunca acabava. Ainda estava um pouco chateado em relação
ao casamento de Ralf e Kyara. Tenho certeza de que o país ficaria feliz em
saber que o seu precioso ‘Deus’ voltou para casa e estava prestes a se casar,
mas não eu. Era dolorido ver que apesar de me querer ele estava seguindo em
frente.
Capítulo 20: Alice | Conto: Deus Americano
capítulo vinte
ALICE
M
|
eu
coração batia rápido. Ainda estava em choque com o noticiário. Ava tinha
perdido os dois olhos graças ao um ladrão de órgãos. Não pude evitar de me
sentir culpado. Afinal eu tinha desejado que algo de muito ruim acontecesse com
ela. Por outro lado eu estava nervoso pelo o que aconteceu nas escadas. Tenho
quase certeza de que o pai de Ralf nos viu. A expressão dele não era a mesma.
Ele parecia surpreso, chocado e eu me atrevo a dizer que até um pouco chocado.
As horas se passaram e eu continuei trancado dentro do meu quarto. Não tinha
coragem de sair e encarar Randy. Não tinha coragem de sair e encarar Ralf. Era
tanta coisa em minha mente nesse momento, não dava para descrever nem escolher com o que eu ficaria preocupado.
Capítulo 19: Olho Por Olho | Conto: Deus Americano
capítulo dezenove
OLHO POR OLHO
A
|
bri os
olhos e me senti estranho. Era como se tivesse apenas piscado. Era sempre muito
rápido. Era como dormir. Acima de mim eu vi Rupert. Olhei em volta procurando
pelo Dr. Bryan e vi que ele estava diferente. Não era o mesmo homem de quando
dormi na minha primeira sessão. Ele era diferente. Completamente diferente para
ser mais exato. Respirei fundo e movi os braços, as pernas e consegui me mover.
Me sentei no sofá e limpei os olhos. Cada sessão eu sentia algo diferente.
- como você está? – perguntou Rupert.
Capítulo 18: Os Verdadeiros Personagens | Conto: Deus Americano
capítulo dezoito
OS VERDADEIROS
PERSONAGENS
A
|
penas uma
noite. Esse era meu plano. Passar uma noite tranquila na casa de Ursula, mas
nem isso eu consegui. Já estava sendo uma barra ter que tratar Ralf como se fosse
um estranho e agora eu tinha que lidar com lembranças as quais eu nem tinha.
Justin veio até a casa de Ursula e mexeu comigo. Me contou um monte de coisas
sobre mim e agora eu não sabia que se acreditava. Não duvido do que ele me
contou, mas eu não sei qual é a real intenção dele. Espero que Justin não
esteja esperançoso que eu sinta algo por ele porque eu não sinto absolutamente
nada além de repulsa. Tenho repulsa até por eu mesmo.
Capítulo 17: Revelação | Conto: Deus Americano
capítulo dezessete
REVELACAO
U
|
ma puta
manhã estressante. Era a única forma de descrever a forma que eu comecei o meu
dia. Meus planos não incluíam correr para o psicólogo por não ter reconhecido
os rostos a minha volta. Ralf ficou estranho comigo até depois do almoço. Ele
me tratava diferente quando Kyara estava por perto. Ele parecia distante, não
conversava comigo direito e nem olhava direto para mim. Aquilo me irritava
demais. Ralf não podia brincar com meus sentimentos desse jeito. Não gostava de
ser bem tratado pelas costas, mas pela frente ser tratado com indiferença.
Ursie foi embora porque tinha “planos”. Foi assim que ela me descreveu
seu dia. O almoço foi silencioso. A manhã tinha sido bem estressante para todos
e eu estava um pouco envergonhado com aquela situação. Assim que todos
almoçaram eu fui até a pia lavar as louças.
Capítulo 16: Nem o Diabo Te Reconheceria | Conto: Deus Americano
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capítulo dezesseis
NEM O DIABO TE
RECONHECERIA
H
|
avia uma
chuva bem fraquinha caindo lá fora. O suficiente para esfriar bastante o clima.
Encarando o teto eu tentei arranjar um motivo para levantar. Era o sétimo dia.
Faz sete dias que meu pai tinha sido enterrado. Meu Shivá tinha terminado. Não
sei bem se a religião era algo importante para mim antes do acidente, mas
decidi respeitar os sete dias em respeito ao meu pai. Ele parecia ser ligado a
origem judaica. Durante esses sete dias eu não conversei com ninguém. Não tomei
banho, não liguei e nem atendi telefonemas e eu mal comi. Devo ter perdido unas
três quilos todos esses dias.
Em parte eu fiz isso para seguir a tradição, mas eu também não tinha
apetite. Fiquei basicamente sete dias trancado no quarto. Kyara deve ter ficado
feliz com isso. Ela não parecia gostar muito de mim e me ver praticamente trancado
no quarto o dia todo deve ter deixado ela feliz. Ela passava muito tempo na
casa de Ralf, mas era compreensível já que eles tinham um relacionamento.
Capítulo 15: Nada se Compara | Conto: Deus Americano
capítulo quinze
NADA SE COMPARA
M
|
e lembro
daquele dia como se fosse ontem. Tinha chegado da escola. Tinha nove ou dez
anos não me lembro bem, acho que foi no dia do acidente. Eu tinha nove anos,
então foi definitivamente no dia do acidente. Naquele dia meu pai deveria ter
ido me buscar no colégio, mas ele não apareceu então o pai de um colega me
deixou em casa. O caminho até a porta de entrada parecia longo demais. A
mochila era pesada nas minhas costas, mas caminhei avidamente. Ao chegar na
entrada meu cachorro não apareceu. A última vez que eu o vi foi de manha quando
ele latia e chorava.
Capítulo 14: Messias | Conto: Deus Americano
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capítulo quatorze
MESSIAS
A
|
ntes de
ir para a casa da família de Ralf nós fomos até o hotel onde eu estava
hospedado. Eu esperei no carro com Ursula enquanto Ralf pegou minha chave e
subiu até meu quarto. Ursula estava em silêncio no banco do motorista e eu
estava em silêncio no banco de trás. Doía muito pensar que não veria meu pai
uma última vez. Estava chateado por minha mãe não querer que eu estivesse no
velório e no enterro, mas por mais que me doa eu não pretendo ir. Não quero
estar lá se eu não serei bem recebido e eu provavelmente vou causar um mal
desnecessário.
Continuamos em silêncio por um tempo. Percebi que o dia seria bem quente
ao ver o sol queimando lá fora. Algum tempo se passou e Ralf voltou com uma
mochila nas costas.
- pegou tudo?
Capítulo 13: Mundo Afogado | Conto: Deus Americano
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capítulo treze
MUNDO AFOGADO
S
|
eis dias.
Seis dias preso naquele hospital. Seis dias preso em um inferno dentro da minha
mente. Seis dias sem visitas, porque eu não queria ver ninguém. Seis dias e
eles ainda não tinham liberado o corpo das vítimas para o velório. Meu pai
estava morto e tudo o que eu queria é que ele descansasse em paz. As únicas
pessoas que eu queria ver era minha mãe Bonnie e minha irmã Lea, mas elas não
tinham vindo me visitar. Não entendo o porque delas terem me abandonado logo
nesse momento. Meus olhos ainda estavam inchados. Fazia três noites que não
dormia. A última conversa que tive com meu pai se repetia em minha cabeça. Eu
queria tanto ter dito coisas diferentes. Ter dito algo como “eu te amo” ou “não
podia ter pedido por um pai melhor.”
Era estranho sentir aquilo pelo homem que eu nem me lembrava direito,
mas era um bom sinal. Algo dentro de mim sabia que ele eram meu pai mesmo que
eu o tenha conhecido á pouco mais de um mês eu já sentia aquele amor de pai e
filho e não outro sentimento confuso. O que me reconforta é que os terroristas
tinham sido mortos. Mereceram cada tiro que levaram. Não sei bem se isso é algo
bom ou ruim já que eles esperam por setenta e duas virgens.
Capítulo 12: Massacre | Conto: Deus Americano
capítulo doze
massacre
Q
|
uase
nunca pude relaxar, quase nunca pude apenas me sentar e deixar a luz do sol
entrar. Tudo o que queria era poder me sentar em um lugar, relaxar, deixar a
luz do sol queimar em minha pele, mas sempre foi difícil me sentir como se eu
pertencesse á algum lugar. Tudo o que eu queria era poder me sentir feliz.
Dizem que tenho todas as ferramentas para ser feliz, mas porque não me sinto
assim?
Nunca saí muito. nunca fui aquele ao qual as pessoas ligavam para pedir
minha companhia. Acho que as pessoas tinham pena de mim pelo o que tinha
acontecido e elas não me viam como uma pessoa, mas como algo inanimado no mundo
que existe apenas para fazê-las se sentir bem consigo mesmos. Poucas eram as
pessoas que me viam como um ser humano. Meu pai era uma das poucas pessoas que
me conhecia de verdade.
Capítulo 11: Vai Ficar Tudo Bem | Conto: Deus Americano
capítulo onze
VAI FICAR TUDO BEM
S
|
olidão. É
tudo o que tenho sentido desde que estava hospedado nesse hotel a pouco mais de
duas semanas. Eu mal me lembrava das pessoas que existiam na minha vida antes
do acidente e agora eu tenho que ficar longe das poucas que eu me lembrava. Eu
devia estar saindo, me divertindo, conhecendo pessoas, mas tudo o que eu fazia
era ficar no meu quarto de hotel pedindo serviço de quarto. Hora eu estava na
cama assistindo TV e hora eu estava dentro da banheira de hidromassagem. Que um
dos melhores momentos do meu dia.
Capítulo 10: O Fim no Começo | Conto: Deus Americano
capítulo dez
O FIM NO COMECO
P
|
ouco mais
de três semanas se passaram desde que tive meu rim roubado por ladrões de órgãos.
Foi um saco, mas desse eu pensar bem eu tive foi sorte afinal eles só levaram o
rim. Se nós pensarmos em tudo o que pode ser removido para doação nesse momento
só haveria uma carcaça minha jogada em alguma vala por ai. Talvez eu nunca mais
fosse encontrado por ninguém. Desse momento em diante eu disse para mim mesmo:
nada de bebidas e nada de drogas. Aquilo já tinha me causado muita confusão e
me custado um rim.
Capítulo 09: Tabu | Conto: Deus Americano
capítulo nove
TABU
O
|
s lençóis
estavam abaixo de mim e um cobertor me cobria até a cintura. Era bom me sentir
quente depois de ter acordado em uma banheira de gelo. Acho que não foi uma
ideia tão inteligente ir para um bar afogar meus problemas. Não lembro muito
bem do que aconteceu. Algumas partes estão em branco, mas consigo me lembrar de
basicamente tudo o que aconteceu. Enfiei a mão dentro do cobertor e toquei
minha cintura. Estava um pouco dolorido. Com certeza parte do rim removido era
real.
- você se lembra de mais alguma coisa? Ou qualquer outro detalhe? –
perguntou o detetive com seu pequeno bloco de notas na mão.
- Já disse tudo o que me lembro. Eu bebi demais, um estranho ofereceu
ajuda, me levou para um hotel e enfiou uma agulha no meu pescoço. Eu me senti
tonto e dormi. Quando acordei eu já estava na banheira.
Capítulo 08: Papai É Todo Seu | Conto: Deus Americano
capítulo oito
PAPAI E TODO SEU
S
|
exo,
drogas e desrespeito. Essa era basicamente a vida que meu pai descreveu para
mim. Ele tinha evidências para me provar isso. Eu vi as evidências, eu me
lembro das evidências, não há nada que Kevin diga que me faça esquecer, mas o
problema é: Kevin não é o problema. Sou eu. Fui eu quem deixou ser filmado. Sou
eu quem enviou o vídeo, veio do meu celular. As ações são minhas, as decisões
foram minhas. Kevin parecia ser uma má influência, mas talvez esse fosse meu
pai tentando colocar a culpa das minhas ações em outros porque no fundo eu vou
ser sempre o garoto dele. Afinal eu sou filho dele, nenhum pai quer acreditar
que o filho é capaz de fazer coisas tão horríveis.
Meu pai me observava comer em silêncio. Os sushis estavam deliciosos e
eu tinha acabado de colocar o último pedaço de Salmão cru na boca com molho Shoyo.
Tomei mais dois goles de Ginger Ale e meu riu para mim.
- o que foi?
Capítulo 07: O Senhor Me Conhece? | Conto: Deus Americano
capítulo sete
O SENHOR ME CONHECE?
Q
|
uanto
mais eu lembrava mais eu queria esquecer. Acho que todos temos vontade de
esquecer alguns momentos de nossa vida e eu tive essa chance e agora que estou
me lembrando eu estou odiando. Dois dias se passaram desde que Justin me contou
sobre o relacionamento aberto que Kevin e eu vivíamos. Não gostava daquilo. Eu
sinceramente não tenho nada contra o sexo e suas várias formas, mas essa vida
não é para todos e com certeza não é para mim. Não era assim que eu me sentia.
Só de imaginar ficar com dois homens ao mesmo tempo eu já acho estranho imagina
cinco pessoas em uma cama sem regras?
Capítulo 06: A Besta Interior | Conto: Deus Americano
capítulo seis
A BESTA INTERIOR
Q
|
uando
abri os olhos naquela manhã a primeira coisa que senti foi uma pequena dor. Não
em qualquer lugar, mas em meu ânus. Acho que Kevin e eu estávamos um pouco
eufóricos na noite passada. Era um pequeno ardor, mas nada fora do normal. É o
que acontece quando se fode com força. Olhei para meu lado na cama, mas não
havia ninguém. O Relógio no criado mudo marcava pouco mais das sete horas da
manhã. Ainda não acredito que me entreguei a Kevin na noite passada. Não me
arrependo. Foram precisos alguns beijos e toques e eu me lembrei de algumas
coisas. Significa que nem tudo está perdido.
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